EXORCIDADE
1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12, corta/ agora dá um close na cara dele
a pixação, muito embora a queiram morta,continua a dar sinais d
vida e a fundir e confundir a cuca dos burocratas d plantão | é o q
prova a reação da imprensa diante da discreta assinatura ( a la
duchamp) da turma exorcity feita no canto do mural do pintor di
cavalcanti na parte externa do antigo prédio dos jornais estado d
são paulo e diário d s.p | a assinatura pontiaguda d menos d dois
palmos d largura (seguindo a rigor a perigosa ideia d kandinsky q
acreditava q a forma triangular, por ser a mais dinâmica, a mais
leve, corresponderia ao amarelo) foi qualificada por jornalistas d
terceiro escalão como vandalismo | d fato, nenhum adjetivo pode
enquadrar melhor a pixação. os adjetivos: 'admirável', 'triunfante'
'contemplativo' são classificações q vestem melhor a arte inerte.
a pixação é, à risca a q não se ajusta aos ideais restauradores d
cultura e q, por definição, se destina a fornecer informação não
usual, informação nova, novidade na quebrada, inovação |e diga
se d passagem, nesses tempos onde cada vez + presenciamos
artistas medíocres triunfando como deuses num falso olimpo,
a definição de vândalo vem a ser um elogio
a pixação é inconveniente |sim | não| não é conivente com a mal
dita noção d arte como compartimento estanque, d cultura como
natureza morta impenetrável q ignora as transformações sociais
e tecnológicas |cada novatecnologia uma novaguerra| é preciso
saber, assim como di cavalcanti soube, q poesia não é hitleratura,
saber q pintura ñ é gaulleria, saber q pixação ñ é afresco, ñ é arte
como entendida pela “medíocre mesnada d medianeirosmédios”
o espírito da cidade é dinâmico | a cultura (como ser vivente) não
é passiva nem estática | se a pixação é a crítica da cidade eléa é
como o "ferro em brasa é crítica do fogo"| logo, a pixação, ao se
afirmar anticultura e em vozalta explicitar o conflito subexistente
na cidade, vive a perturbar a pintura e a tirar o sono dos artistas
plásticos d vida mansa
enquanto a imprensa kassabia tenta inventar modos d exorcizar
o fantasma da pixação, antes mesmo d tentar perceber o sentido
d suas experiências e d sua evolução, a pixação vai florescendo,
saindo d sua adolescência (em sampa existe há +ou- 23 anos) e
amadurecendo,se posicionando d maneira eficaz contra a noção
nociva q os burocratas da linguagem fazem d patrimônio cultural
williamblake:os tigres da ira sabem mais q os camelos da cultura
não é novidade, sempre foieéeeraeseráassim, q poemas, peças,
telas, e porq ñ, pixos, com nítidas características transgressoras
em seu aspectovisual tendem a ser interpretados como algo nada
sério. maiakovski bem afirmou q o poeta mais inventivo da rússia,
khlebnikov, foi negligenciado e taxado em sua época: grafômano.
kilkerry, grande poeta bahiano, e até hoje ignorado pelos leitores
d poesia no brasil, escrevia seus poemas em muros, ou pedaços
velhos d papel, sem nunca se colocar naquela posição pomposa
e enfadonha d poetinha triunfal | a pixação ao mesmo tempo é a
incorporação/esculhambação d obras d vanguarda do século xx,
dos hieróglifos da idade da pedra, dos ideogramas dos orientais
é ao mesmo tempo uma conquista sígnica da poesia concreta e
o resultado dos ruídos e acontecimentos caóticos d uma cidade
extremamente mal planejada | é uma faca só lâmina: joão cabral
ou ainda: a inacreditável arte d pobre para pobre: déciopignatari
a classe média se choca e afirma com veemência q aquilo não é
arte, mas afinal, quando a classe média entendeu de arte?
o ralo comentário d elza azjenberg:“a cidade reclama por beleza,
cores, formas e vem alguém fazer isso num patrimônio cultural”
deixa clara a incompetência e insensibilidade das pessoas q são
responsáveis pelo desenvolvimento da informação em sãopaulo
outra afirmação presente na matéria publicada foi a seguinte: “o
ato de vandalismo ocorre em meio a tentativas de revitalização
dessa região central”| sejamos sinceros: quem vive a vida diária,
e circula, sem carro, por aquela região sabe o q d fato acontece:
um pelotão d crianças subnutridas tomadas pelo vício do crack,
dormem defecam gemem berram saem caem roem moem doem
perpassam o mural como se estivessem num corredor da morte
e continuemos sendo sinceros: a não ser o observador estático,
logo ali à frente, o soberbo designer luis de camões, dos milhões
d caminhantes cotidianos, quem se atenta ao grandioso painel do
grande cavalcanti?
para esclarecer qualquer confusão e afirmar d q lado estamos,
convém aqui citar um revolucionário - glauber rocha - no seu
filme sobre di cavalcanti:
amigo cavalcanti
a hora é grave
é inconstante
tudo aquilo q prezamos
(o povo
a arte
a cultura)
vem sendo desfigurado
pelos homens
do passado
q por terror ao futuro
optaram
pela tortura
poeta di cavalcanti
nossas coisas bem amadas
neste mesmo exato instante
estão sendo desfiguradas
por isso pinta o pintor
pinta pinta pinta
pinta o ódio
pinta o amor
com o sangue da tua tinta
na sua desgraça distinta
pinta tudo q não minta
hay que luchar cavalcanti
| cultura como ser vivente e não como
compartimento estanque. estamos com di, estamos ao lado dele,
E X O R C I T Y E D I C A V A L C A N T I, não com a imprensa
incompetente, q essa sim, uma vândala do conhecimento e das
experiências humanas.
a única imprensa q tomamos partido é a imprensa d Gutenberg
o interessante é q o jornalista responsável pela matéria não leu a
assinatura corretamente | leu exorcista não exorcity o q evidencia
a ignorância no assunto e dificuldade em penetrar na linguagem
dos pixadores “ esses elementos da mais alta periculosidade ”
(gil gomes lhes diz) | a pixação sempre quer deixar uma incógnita,
um x ou y qualquer | e para quem não possui repertório d pixação,
exercite: a sacada da intervenção se dá em relação ao nome di q
foi, sem sombra d dúvida, o maior pixador d todos os tempos na
cidade d são paulo
di, não o cavalcanti, mas o di, d osasco, foi inventor d alguns dos
slogans mais fortes e geniais da pixação como - pixar é humano -
e - exterminadores de muro – di participou d algumas entrevistas
na imprensa no fim dos anos 80 e começo dos anos 90 | dono de
comentários polêmicos até mesmo em relação ao mundo do pixo,
foi o primeiro poeta-pixador a se manifestar publicamente contra
a propriedade privada | chegou a fazer uma escultura para deixar
exposta no parque ibirapuera em época de bienal | di, da família d
odisseu, foi sim autor d mais d vinte prédios na avenida paulista e
foi brutalmente assassinado no final dos anos 90
atenção à simples triangulação: exorcity – e di – cavalcanti | como
numa anedota bem pensada as coisas vão se desdobrando: será
uma homenagem ao di, será uma homenagem/ho mens agem ao
di cavalcanti, será q di - cavalcanti entrou para a gang exorcity ou
será q os exorcitys entraram para a gang do cavalcanti? nenhuma
dessas opções | a verdade é q essas 3 personas do mundo visual
estão agora bem próximas - convivem - como numa sincronicidade
dantesca 'o olho sincrônico enxerga a rosácea das convergências'
as coisas estão aí vivas pra quem quiser sacar, senão, só lamento
a pixação, muito embora a queiram morta, vai continuar lançando
sinais d vida | e aos assassinos da nova informação oferecemos a
citação do filmeminuto - je vous salue sarajevo - d jean-luc godard:
pois há
uma regra
e uma exceção
cultura
é a regra
e arte
a exceção
todos falam a regra
cigarro
computador
camisetas
TV
turismo
guerra
ninguém fala a exceção
ela não é dita
é escrita
flaubert
dostoievski
é composta
gershwin
mozart
é pintada
cézanne
vermeer
é filmada
antonioni
vigo
ou
é
vivida
e se torna
a arte de viver
srebenica
mostar
sarajevo
a regra
quer a morte
da exceção
então
a regra
para a europa cultural
é organizar
a morte da arte de viver
que ainda floresce
quando for hora
de fechar o livro
eu
não
terei
arrependimentos
eu vi tantos
viverem tão mal
e tantos
morrerem
tão
bem
exorcity abril 2011